“Hoje elas conseguem pedir ajuda”: Centro de Referência da Mulher já atendeu mais de 5 mil mulheres em três anos

“Hoje elas conseguem pedir ajuda”: Centro de Referência da Mulher já atendeu mais de 5 mil mulheres em três anos

Fotos: Vinicius Becker (Diário)

O celular de 5,2 mil mulheres tocou para um gesto de ajuda nos últimos três anos. Do outro lado da linha, estavam profissionais do Centro de Referência da Mulher que atuam no acolhimento e orientação de mulheres em situação de violência. O serviço é considerado uma das principais portas de entrada para mulheres que buscam proteção, apoio psicológico e orientação jurídica no município. Em novembro deste ano, o CRM completou três anos de atuação em Santa Maria.


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Vinculado à prefeitura e à Secretaria de Desenvolvimento Social, o CRM atua como política pública de assistência social. Todas as medidas protetivas expedidas por órgãos como delegacias, hospitais e unidades de saúde chegam ao Centro, que acompanha cada caso. Segundo a coordenadora do serviço, Lucy Freitas, o atendimento começa com o acolhimento inicial e a escuta qualificada, seguido do encaminhamento conforme a necessidade de cada mulher.

– A mulher, desejando passar pelo acolhimento, pode receber atendimento psicossocial e jurídico. A partir da identificação da demanda, ela é encaminhada para a rede, de acordo com o que trouxe até nós. Os números são grandes e continuam aumentando, mas acreditamos que isso também seja resultado do fortalecimento dos canais de denúncia. Antigamente, as mulheres não conseguiam nem sair de casa. Hoje, elas conseguem pedir ajuda – afirma.


Atendimento seguro e equipe formada só por mulheres

O espaço funciona de forma sigilosa e restrita. Atualmente, o CRM conta com uma equipe formada somente por mulheres. Uma assistente social, uma psicóloga, uma assessora jurídica, uma coordenadora e uma servidora administrativa atuam no local.

– É um espaço seguro e sigiloso. Homens só entram aqui mediante agendamento, até mesmo os colegas que vêm fazer algum tipo de manutenção. Tudo é organizado para evitar constrangimento. Esse é um espaço pensado para que a mulher se sinta à vontade – relata Lucy.

Além do atendimento na sede do CRM, a equipe também realiza visitas domiciliares, busca ativa e desenvolve projetos de prevenção em escolas. Um deles, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (Smed) e a Guarda Municipal, que leva o tema da violência doméstica para as escolas do município. Uma tentativa de romper, desde cedo, ciclos de agressões que atravessam gerações, como relata Lucy:

– A criança precisa saber que aquele trato violento que o pai tem com a mãe não é normal. As meninas precisam saber quais são os tipos de violência, e os meninos precisam aprender o que não podem fazer. Porque tudo começa pelo respeito. Quando um diz não, o outro precisa respeitar. A nossa sociedade ainda é machista, mas eu acredito que, com esse trabalho nas escolas, ainda dá tempo de mudar – enfatiza.


“Nosso trabalho é ajudar a não revogar a medida porque eles não mudam”

Lucy, coordenadora do espaço, fala sobre o trabalho para que medidas protetivas não sejam revogadas antes do tempo

A medida protetiva tem validade inicial de seis meses e pode ser renovada. Durante esse período, o Centro acompanha os casos de perto para evitar que a mulher revogue a proteção antes do tempo.

– Existe o ciclo da violência: ele agride, depois pede perdão, traz flores, promete mudança, e depois agride de novo. Nosso trabalho é ajudar essa mulher a não revogar a medida, porque, na maioria dos casos, eles não mudam – alerta Lucy.

A fiscalização das medidas protetivas é realizada pela Brigada Militar, por meio da Patrulha Maria da Penha. As equipes fazem visitas às residências para verificar se o agressor mantém distância da vítima. Outro apoio vem do Ministério Público, por meio do Projeto Segura, que atende homens condenados por violência doméstica e que cumprem medidas alternativas à prisão. Já para as mulheres que não tem para onde ir, o CRM faz o encaminhamento para as casas de passagem do município.


Perfil de mulheres atendidas

Não existe um perfil único de mulheres atendidas pelo Centro de Referência. A coordenadora do espaço lembra que a violência doméstica atinge todas as idades e classes sociais – desde mulheres que não conseguiram estudar até médicas ou advogadas.

– Antigamente, via-se muito aquela mulher da periferia, que apanhava, que não trabalhava fora, que dependia financeiramente. Hoje, não. Hoje, nós atendemos médicas, advogadas, delegadas, psicólogas, assistentes sociais. E os agressores estão nessas mesmas classes também. A violência está em todas as classes sociais – afirma.


Recomeços possíveis

O impacto do trabalho desenvolvido pelo Centro de Referência da Mulher aparece, sobretudo, nas trajetórias das mulheres atendidas. A coordenadora do espaço relata que muitas chegam em situação de extremo abalo emocional, com a autoestima fragilizada e a vida atravessada pela violência. Com o acompanhamento contínuo e o encaminhamento à rede de apoio, aos poucos, passam a encontrar caminhos para reorganizar a própria rotina e reconstruir vínculos familiares.

Segundo Lucy, não são raros os casos de mulheres que, após romperem com o ciclo da violência, voltam a estudar e retornam ao mercado de trabalho.

– Quando elas chegam aqui, chegam quebradas em todos os sentidos, principalmente emocionalmente. Um agressor consegue destruir uma mulher em uma semana e comprometer a vida dela para o resto da vida. Quando a gente consegue dar esse suporte, quando ela se sente valorizada, ouvida, em um espaço seguro, e sai daqui com os encaminhamentos para a rede, isso muda tudo. A nossa maior felicidade é ver uma mulher sair desse ciclo e seguir em frente – afirma Lucy, emocionada.


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